sexta-feira, 11 de maio de 2007

O que/como é a realidade. Formas de apreensão...


No caminho para casa dele tinha passado por uma florista e comprado uma rosa vermelha para a minha lapela. Tirei-a e ofereci-lha. Ele olhou-a como se fosse um botânico ou um morfologista a estudar um espécimen, não como alguém a quem se dá uma flor.
"Tem cerca de seis polegadas de comprimento", comentou, "é uma forma vermelha e curva com um apêndice verde linear."
"Sim", disse-lhe eu encorajando-o, "e o que poderá ser?" "Não é fácil", parecia perplexo, "falta-lhe a simetria simples dos sólidos embora possa ter uma simetria própria mais complicada... penso que talvez seja uma planta ou uma flor." "Talvez seja?" "Talvez", confirmou. "Cheire-a", sugeri. Mais uma vez ele pareceu confuso, como se eu lhe tivesse pedido para cheirar uma simetria complexa, mas acedeu e cortesmente levou-a ao nariz. De repente pareceu reviver.
"Linda!", exclamou, "uma das primeiras rosas do ano. Que perfume divino!" E começou a trautear "Die Rose, die Lillie..." Parecia que a realidade podia ser apreendida não através da visão mas através do cheiro.

SACKS, Oliver, O homem que confundiu a mulher com um chapéu, Relógio d`água, pp. 29-30

3 comentários:

Bruno disse...

este texo é complexo para quem nao o sente...mas para quem o faz este é lindo...é um facto que nos tempos que correm cada vez menos temos contacto com a beleza que o nosso mundo nos tras...cada vez mais estamos absorvidos pela rotina diária...cada vez mais parecemos animais com umas palas nos olhos que nos limita as perspectivas do mundo...cada vez mais olhamos em frente e isto acontece por nao termos sensibilidade,em vez de olharmos para baixo,a vida esta escrita nas entre linhas e nos tendo a inteligencia para tal porque nao a estimulados em vez de a reprimirmos...isto leva-me a um pensamento...será que não são os invisuais que vêm a verdadeira beleza do mundo...estes sim utilizam os seus sentidos e por um lado são previligiados pois tudo que sentem é a dobrar do que nos sentimos...

Bruno

Anónimo disse...

Olá Bruno!
Dado o texto ter sido descontextualizado, a interpretação que lhe deu, ou que fez dele, acabou por ser curiosa, entendeu o sujeito, o "botânico" como invisual. De facto, é um invisual, mas não no sentido vulgar do termo, é um invisual em termos de interpretação dos estímulos visuais! Falamos na aula...

Anónimo disse...

A Realidade pode ser construida através da visão, do olfacto, do tacto e até da audição, ou seja através dos nossos cinco sentidos.
A realidade está em cada gesto, em cada segundo,em cada minuto da nossa existência, no quotidiano em que vivemos.
Cada um de nós possui uma realidade diferente inspirada no que cada um possui dentro de si, através dos seus sentimentos, nos seus actos, no seu presente, futuro, nas suas atitudes, no que já fizemos e naquilo que pretende-mos fazer.
A realidade é construida através da nossa existência ou Inexistência.
No mundo real ou na fantasía a realidade habita no dia a dia de cada um de nós.
Anabela Neto 11º 1ª turma nº 4