domingo, 29 de abril de 2007

É ou não é um cachimbo?

O termo "realidade" designa aquilo que existe efectivamente: uma realidade é uma coisa que é, a realidade é o conjunto das coisas que são.
Enciclopédia Universalis

A ciência, embora transforme a nossa imagem do real, não passa, assim o cremos, de uma perspectiva referencial e os múltiplos níveis de realidade, no fundo, supõem um elemento último cuja existência não pode ser discutida sem que a totalidade desabe como um imenso castelo de cartas. Ao mesmo tempo os homens determinam o que é através do que fazem. Que a realidade existe, não temos nenhuma dúvida. Mas que saibamos o que ela é, isso é outra história.


PARROCHA, D., Le Réel

A realidade não é o que parece?

Como é que o mundo é? Como é que as coisas são? São tal como as apreendemos? Apreendemos o que é ou o que nos parece ser? O que é a realidade?

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Prós e Contras

A energia nuclear é uma fonte de energia alternativa às energias tradicionais, necessária para responder aos consumos cada vez maiores das sociedades actuais. No entanto, por outro lado, pode destruir a Humanidade!

Uma nova ética

Devemos elaborar um jogo de três códigos morais compatíveis entre si: um código universal, um código que seja a actividade do tecnólogo e um código moral social que seja a actividade daqueles que adoptam decisões no âmbito tecnológico. Ou, mais explicitamente, necessitamos de: um código moral universal para todo o ser humano, um código viável e fundamentado em juízos de valor passíveis de serem discutidos, podendo basear-se na regra de ouro da ética: Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti. Um código moral individual para o investigador que inclua o código moral da ciência, isto é, o conjunto de normas morais que asseguram a procura e disseminação da verdade, assinalando a sua responsabilidade pessoal no trabalho profissional, bem como o seu dever de negar-se a participar em projectos cujos objectivos possam ser considerados anti-pessoais e anti-sociais. Um código moral social que oriente a formação de políticas de investigação e desenvolvimento tecnológicos, condenando a procura de metas socialmente indesejáveis e limitando drasticamente qualquer processo tecnológico que possa ter fins nocivos.

BUNGE, Mário, Epistemologia, Editora T.ª Queiroz, S. Paulo, p.204 (adaptado).

quinta-feira, 26 de abril de 2007

De Quincey e a dor de dentes

Nos princípios do séc.XIX, Thomas de Quincey escrevia que as dores de dentes representavam uma quarta parte do sofrimento humano. É bem possível que tenha acertado. A anestesia odontológica é uma benção inequívoca, como o são a água limpa e as casas de banho inodorizadas. O progresso é um facto. Contudo a fé no progresso é uma superstição.A ciência permite aos homens a satisfação das suas necessidades. Nada faz para as mudar. Não são hoje diferentes do que sempre foram. Há progresso no conhecimento, mas não na ética. São estes os veredictos tanto da ciência como da história, e é este o ponto de vista de todas as religiões do mundo.O aumento do conhecimento é real e - a menos que sobrevenha uma catástrofe à escala mundial -, hoje, irreversível.
GRAY, John, Sobre Humanos e Outros Animais, lua de papel, p.136

amiga/inimiga

A verdade é que a maioria das pessoas acredita que a tecnologia é um amigo indefectível e há duas razões para isso.
Primeiro, a tecnologia é uma amiga, torna a vida mais fácil, mais limpa e mais comprida. Pode pedir-se mais a um amigo?
Segundo, por causa da sua relação longa, íntima e inevitável com a cultura, a tecnologia não incita a um exame íntimo das suas próprias consequências. O tipo de amigo que pede confiança e obediência, que muitas pessoas estão inclinadas a satisfazer porque as suas dádivas são realmente caritativas. Mas, claro, há um lado negro neste amigo: as suas ofertas têm pesadas contrapartidas. Posta nos termos mais dramáticos, a acusação afirma que o crescimento descontrolado da tecnologia destrói os recursos vitais da nossa humanidade, cria uma cultura sem um fundamento moral e mina certos processos mentais e relações sociais que tornam a vida humana digna de ser vivida. A tecnologia, em suma, é tanto um amigo como um inimigo.

N. POSTMAN, Tecnopolia: quando a cultura se rende à tecnologia, Lisboa,Difusão Cultural,pp.9-10

comunicação/ligação de alta velocidade


quarta-feira, 25 de abril de 2007

UMA IRONIA DA HISTÓRIA

Um dos pioneiros da robótica escreveu: "No próximo século, robôs baratos mas competentes diminuirão o trabalho humano em tão grande medida, que o custo médio da jornada de trabalho terá de descer praticamente para zero, a fim de todos poderem manter o seu "emprego".



A visão do futuro de Hans Moravec pode estar muito mais próxima do que cremos. As novas tecnologias desalojam rapidamente o trabalho humano. A "infraclasse" dos desempregados permanentes é em parte o resultado de uma educação deficiente e de políticas económicas erradas. Mas é verdade que o seu número crescente se está a tornar economicamente redundante. Deixou de ser impensável que, dentro de algumas gerações, a maioria da população não tenha mais que um papel reduzido, ou mesmo nenhum, no processo de produção.



O principal efeito da Revolução Industrial foi a criação da classe operária. Isso aconteceu não tanto através da transferência forçada dos habitantes dos campos para as cidades, mas sobretudo devido às novas possibilidades de crescimento demográfico maciço. Nos começos do séc.XXI, está em curso uma nova fase da Revolução Industrial que promete tornar supérflua boa parte da população.



Hoje, a Revolução Industrial que começou nas cidades do Norte de Inglaterra expandiu-se ao mundo inteiro. O resultado é a expansão global da população que hoje testemunhamos. Ao mesmo tempo, novas tecnologias estão a desprover rapidamente do seu papel a força de trabalho que a Revolução Industrial criara.


Uma economia cujas tarefas essenciais são feitas por máquinas só atribuirá algum valor ao trabalho nos casos em que este não possa ser substituído. Moravec escreve: "Múltiplas tendências nas sociedades industrializadas apontam para um futuro em que os seres humanos serão sustentados pelas máquinas, da mesma maneira que os nossos antepassados o foram pela vida selvagem". Segundo Jeremy Rifkin, isto pode não representar um desemprego em massa. Estamos antes a aproximar-nos de um tempo em que, nos termos de Moravec, "quase todos os seres humanos trabalham para diversão de outros seres humanos".


Nos países ricos, essa época já chegou. As velhas indústrias foram exportadas para o mundo em vias de desenvolvimento. Dentro das suas fronteiras, apareceram novas ocupações, substituindo as da era industrial. Muitas delas satisfazem necessidades que no passado eram reprimidas ou dissimuladas. Uma próspera economia de psicoterapeutas, de designers religiosos e de boutiques espirituais encontra-se em plena expansão. A par desta, existe uma enorme economia cinzenta de indústrias ilegais fornecedoras de drogas e de sexo. A função desta nova economia, nos seus aspectos legal e ilegal, é divertir e distrair uma população que - embora hoje mais ocupada do que nunca - tende a suspeitar secretamente da sua própria inutilidade.


A industrialização criou a classe operária. Hoje, torna a classe operária obsoleta. A menos que um colapso ecológico interrompa o seu actual curso, fará mais tarde o mesmo a quase toda a gente.


GRAY, John, Sobre Humanos e outros Animais, lua de papel, pp.139-140

O apelo do objecto técnico

"Podemos começar com a seguinte questão: que é que distingue uma técnica primitiva caracterizada por uma relação directa entre o homem e a matéria - o exemplo seria o trabalho do pedreiro - de uma outra mais actual caracterizada pela existência de novas tecnologias de informação - o trabalho desenvolvido através da utilização de um computador?"

in NEVES, José Pinheiro, O apelo do objecto técnico, campo das letras, p.94