Um dos pioneiros da robótica escreveu: "No próximo século, robôs baratos mas competentes diminuirão o trabalho humano em tão grande medida, que o custo médio da jornada de trabalho terá de descer praticamente para zero, a fim de todos poderem manter o seu
"emprego".
A visão do futuro de Hans Moravec pode estar muito mais próxima do que cremos. As novas tecnologias desalojam rapidamente o trabalho humano. A "infraclasse" dos desempregados permanentes é em parte o resultado de uma educação deficiente e de políticas económicas erradas. Mas é verdade que o seu número crescente se está a tornar economicamente redundante. Deixou
de ser impensável que, dentro de algumas gerações, a maioria da população não tenha mais que um papel reduzido, ou mesmo nenhum, no processo de produção.
O principal efeito da Revolução Industrial foi a criação da classe operária. Isso aconteceu não tanto através da transferência forçada dos habitantes dos campos para as cidades, mas sobretudo devido às novas possibilidades de crescimento demográfico maciço. Nos começos do séc.XXI, está em curso uma nova fase da Revolução Industrial que promete tornar supérflua boa parte da população.
Hoje, a Revolução Industrial que começou nas cidades do Norte de Inglaterra expandiu-se ao mundo inteiro. O resultado é a expansão global da população que hoje testemunhamos. Ao mesmo tempo, novas tecnologias estão a desprover rapidamente do seu papel a força de trabalho que a Revolução Industrial criara.
Uma economia cujas tarefas essenciais são feitas por máquinas só atribuirá algum valor ao trabalho nos casos em que este não possa ser substituído. Moravec escreve: "Múltiplas tendências nas sociedades industrializadas apontam para um futuro em que os seres humanos serão sustentados pelas máquinas, da mesma maneira que os nossos antepassados o foram pela vida selvagem". Segundo Jeremy Rifkin, isto pode não representar um desemprego em massa. Estamos antes a aproximar-nos de um tempo em que, nos termos de Moravec, "quase todos os seres humanos trabalham para diversão de outros seres humanos".
Nos países ricos, essa época já chegou. As velhas indústrias foram exportadas para o mundo em vias de desenvolvimento. Dentro das suas fronteiras, apareceram novas ocupações, substituindo as da era industrial. Muitas delas satisfazem necessidades que no passado eram reprimidas ou dissimuladas. Uma próspera economia de psicoterapeutas, de designers religiosos e de boutiques espirituais encontra-se em plena expansão. A par desta, existe uma enorme economia cinzenta de indústrias ilegais fornecedoras de drogas e de sexo. A função desta nova economia, nos seus aspectos legal e ilegal, é divertir e distrair uma população que - embora hoje mais ocupada do que nunca - tende a suspeitar secretamente da sua própria inutilidade.
A industrialização criou a classe operária. Hoje, torna a classe operária obsoleta. A menos que um colapso ecológico interrompa o seu actual curso, fará mais tarde o mesmo a quase toda a gente.
GRAY, John, Sobre Humanos e outros Animais, lua de papel, pp.139-140