segunda-feira, 18 de junho de 2007

Pobreza e Globalização... que direitos?

Em conferência proferida no Centro Paroquial de Carcavelos, no seminário "Direitos Humanos aqui e agora" no quadro do cinquentenário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 17 de Novembro de 1998, Fernando Nobre disse o seguinte: ... após cinquenta anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, podemos constatar com frieza que, em grande parte, os Direitos humanos estão a ser claramente violados. Permitam-me que não passe em revista os trinta artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o que seria fastidioso para todos, mas deixem-me dizer-vos que é sabido que um terço da população do planeta vive em situação de pobreza, a saber, vive com menos de dois dólares por dia e que um quinto do planeta vive em situação de miséria absoluta, isto é, com menos de um dólar por dia por pessoa. Falar de pobreza é automaticamente falar de violação de Direitos Humanos. Efectivamente, podemos dizer que os trinta artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem podem ser divididos em cinco grandes grupos: os direitos civis, os direitos políticos, os direitos económicos, os direitos sociais e os direitos culturais. Não há nenhum grupo destes direitos que não seja violado em situação de pobreza. Uns são sistematicamente violados e outros são-no com frequência, uns são menos violados e outros raramente o são, mas em princípio todos os direitos são violados.

in Fernando Nobre, Gritos contra a Indiferença, Temas e Debates, 2007, pp.29-30

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Mais uma vez a (des)igualdade

Que todos os homens nascem livres e iguais é um inútil despropósito mantido há séculos como princípio indestrutível apesar da experiência se encarregar de o falsear inexoravelmente. É, na realidade, um axioma derivado do próprio conceito egoísta, ou da abstracção de acordo com a qual o indivíduo e a sociedade são realidades separadas e antagónicas. Privado do contexto social, o indivíduo encontra-se despojado das suas diferenças, igual a qualquer outro em tudo o que se refere àquilo que constitui a sua essência. Assim, a maior parte das teorias éticas da época vêem-se obrigadas a imaginar um fictício "contrato social". Um contrato - imaginário, nunca real - como hipótese explicativa da submissão do indivíduo ao estado. No estado de natureza, pré-social, o indivíduo é amoral, não necessita de normas. O que apenas quer dizer que a moralidade - tal como a ordem social - não é algo de co-natural ao ser humano. A moral não é inata, mas adquirida pela imposição dos factos, pela inevitável socialização. Só a existência do direito consolida e dá firmeza a uma vaga mas necessária tendência para a organização e a convivência.
Victoria Camps, Paradoxos do Individualismo, Relógio D`Água, 1996.

sábado, 9 de junho de 2007

O G8, globalização, poluição...

"Os líderes dos oito países mais industrializados chegaram hoje a um entendimento para a necessidade de reduzir “substancialmente” as emissões de gases de efeito de estufa, sem no entanto se comprometerem com uma meta comum na luta contra o aquecimento global.
Tendo em conta os conhecimentos científicos relatados nos relatórios Grupo Intergovernamental de Peritos para a Evolução do Clima, as emissões de gases de efeito de estufa devem parar de aumentar e isso só pode ser conseguido através de reduções substanciais das emissões globais”, lê-se no comunicado final da sessão plenária desta manhã em Heiligendamm, onde decorre a cimeira do G8.Os dirigentes dos oito países comprometeram-se a trabalhar num novo quadro de referência para a redução das emissões de dióxido de carbono “que inclua os principais países emissores”, ao contrário do que sucede com o actual Protocolo de Quioto, não ratificado por países como os EUA ou a China. Ao contrário do que pretendiam os ambientalistas, o G8 não se comprometeu com um objectivo específico para os cortes nas emissões poluentes, mas prometem analisar “seriamente” a decisão assumida pela União Europeia, Canadá e Japão “que prevêem reduzir para metade as emissões globais até 2050”. “Comprometemo-nos a cumprir estes objectivos e convidamos as principais economias emergentes a juntarem-se a nós neste esforço”, sublinha a declaração comum. A chanceler alemã, Angela Merkel, que preside à cimeira, mostrou-se satisfeita com o “grande sucesso” alcançado, ainda que no início do encontro se tivesse dito que seria possível convencer os líderes do G8 a aceitarem uma meta específica para a redução das emissões. “Vários países evoluíram” nas suas posições, explicou a responsável, numa clara alusão aos EUA, que durante anos se opuseram à fixação de quotas de redução. Merkel sustenta que a declaração acordada hoje demonstra que as nações mais ricas estão “empenhadas” em seguir o exemplo da União Europeia, trabalhando com a ONU no planeamento de novas metas para o período pós-Quioto, que expira em 2012."

in Público.pt em 7 de Junho de 2007

domingo, 3 de junho de 2007

A televisão, o Butão e a globalização

O Público de 28 de Maio de 2007, no artigo "A televisão levou mais felicidade ao Butão. Ou talvez não", dá-nos notícias de um reino distante (Himalaias) onde a televisão foi autorizada pelo seu rei, em apenas 1999. Certo é que em 2005 já tem 45 canais. A televisão abriu horizontes, deu a conhecer realidades insuspeitadas e acabou também por ser acusada de muitos males que antes, supostamente (pelo menos alguns) não existiam. Fim da vida familiar? Pergunta-se no artigo... digamos que, pelo menos grandes alterações na vida familiar, nos conhecimentos que cada um dos membros pode aumentar, talvez na felicidade que possam ter, nos sonhos, expectativas... A globalização caminha a passos largos, aproxima realidades distintas e dá conta das semelhanças. O artigo termina deste modo, e passo a citar: "Sem televisão, a vida aqui é bastante aborrecida", diz. "É bom ver o mundo que há lá fora. Já vi agricultores japoneses a cultivarem arroz e eles fazem-no quase da mesma maneira do que nós."

O fenómeno da globalização

Em Babel, Alejandro González Iñárritu, filma histórias cruzadas algures entre Marrocos, Tóquio e a fronteira Estados Unidos com o México. O filme reflecte o mundo em que vivemos, um mundo cada vez mais pequeno, mais próximo (fruto da globalização) mas que, curiosamente, engendra cada vez mais solidão.
Encontramos de tudo por aqui, os afectos, a solidão, a sexualidade, a burocracia, o choque entre culturas, a incompreensão, a política... Um filme para ver/rever e reflectir...